NIGHT RAIN

Rain tiptoeing
on the roof
of your van
then quickening,

the way you say
I enter a room:
deer-like, tentative
then definite.

I can't stand
outside my body,
see myself
a shadow animal

against the wall
but I take
your word for it, lie
still on your chest

and find you
too beautiful
to look staight at
so I look at you

the way rain
touches the roof
a thousand times
lightly

trace your shoulder
the way drops
move down
the windowpane

and when you
turn to me, the rain
falls through
the night's thin skin

and my skin is less
than paper
so by now
I must be drowned

must be an envelope
soaked in warm water
held to the light
so you can

see right through me,
how I break
and make the world
seem solid.

///

NOITE CHUVOSA

Chuva leve
no tejadilho
do teu furgão
e depois mais forte,

tal como eu entro no quarto
dizes tu;
tipo corça, hesitante
depois decidida.

Não posso ficar
fora do meu corpo,
ver-me a mim própria
na sombra dum animal

contra a parede
assim
repenso as tuas palavras, ainda
deitada no teu peito

achando-te
lindíssimo
de se olhar directamente
por isso o faço

o caminho da chuva
tamborila no tejadilho
mil vezes
docemente

desenha o teu ombro
da forma como as gotas
deslizam
na vidraça

e quando te voltas
para mim, a chuva
trespassa
a fina pele da noite

e a minha pele é menos
do que papel
portanto agora
ter-me-ia afogado

poderia ser um envelope
encharcado de água aquecida
pela luz
para que possas

ver claramente através de mim
como me rasgo
e faço o mundo
parecer sólido.

by Helen MORT, British poet (b. 1985), in "THE POETRY REVIEW", Volume 108:2, Summer 2018

(Portuguese translated by Armando TABORDA, 2018)

(photo taken from Internet; edied by Armando TABORDA)